terça-feira, 24 de outubro de 2017

Gorda Sim, Carente Nunca


Imagine acordar um dia morrendo de dores e perceber que perdeu a força, capacidade motora, coordenação nos membros superiores e inferiores, perder a capacidade de mastigar direito, ficar em pé, andar, sentar, segurar um copo, usar talheres, segurar um prato, de um dia pro outro passar a depender de alguém para praticamente tudo...


E com isso, tudo que eu gostava de fazer, todo meu trabalho de empoderamento de mulheres gordas precisou ser deixado de lado. Quando não aceito um convite e explico que não tenho condições físicas ainda por causa da chikungunya, preciso lidar com ironia, descrença, deboche, etc...


A realidade é que embora eu tenha melhorado um pouco de nada e tenha voltado pro meu trabalho de carteira assinada, pouca energia e disposição me sobram para fazer qualquer outra coisa. Eu já consigo escrever um pouco com a mão direita, já consigo digitar um pouco, mas qualquer coisa um pouco, além disso, já é o suficiente para as dores piorarem horrores.


Ainda almoço um sanduíche que levo de casa, ainda não recuperei a força e totalmente o tato das mãos, ir a um restaurante é missão impossível, pub então nem pensar, sair de qualquer coisa além do trajeto casa-trabalho-casa é certeza de tortura. Não consigo usar garfo e faca e muito menos levar um talher com comida da mesa à boca, eu não consigo fazer esse movimento, não tenho força, nem coordenação e dói demais. Quando tento, a mão não consegue chegar até a boca e quando chega, tem mais comida no chão do que no talher. Não consigo segurar um copo de vidro vazio, quanto mais cheio. Eu me sinto uma múmia de tanta limitação ahahahah




Não consigo dar mais de 1000 passos por dia, isso para uma pessoa que andava muito fácil uns 20.000 é um choque. Não consigo usar transporte público, pois não consigo ficar muito tempo em pé, não consigo descer ou subir muitos degraus, não consigo levantar os braços ou segurar qualquer coisa por muito tempo, não conseguiria me segurar nas barras de ferro do transporte público...


Não consigo mais ir ao cinema ou teatro, nem dinheiro eu tenho mais para isso, meus gastos com transporte e medicações levam todo meu salário e eu confesso que viver e honrar meus compromissos se torna mais difícil a cada dia. Portanto, se eu dedico um pouquinho do meu tempo que seja à você, saiba que esse pouquinho pode te parecer insignificante, mas que para mim é um sacrifício que tenho prazer em oferecer.  Se você não souber reconhecer, paciência, outra pessoa saberá.


E mesmo em meio a tantas limitações, algumas situações constrangedoras aconteceram. Eu sou simpática e comunicativa e educada, e carência é uma coisa que não encontra em mim morada, mesmo com toda chikungunya, nas situações mais inusitadas surgiram pessoas que me conheceram e na hora se interessaram, mesmo toda ruim de chikungunya eu atraí a atenção de alguns sem a menor intenção da minha parte e eu disse não para essas pessoas.



E mesmo dizendo não, insistiam e repetiam, pois achavam surreal eu uma gorda naquela situação dizer não. Como se eu fosse obrigada a aceitar a investida de qualquer um, ainda mais por me encontrar numa situação tão debilitada...dá uma raiva isso!! E isso sem mencionar a minha demissexualidade que é tema para outro post.



Ser demissexual e  gorda e ter chikungunya = caos de diversão pura














Beijões Gordos,

Claudia Rocha GorDivah
Snap: gordivah

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