domingo, 18 de maio de 2014

Zumbis Mecânicos

Eu decidi fazer uma faxina geral, pesada, na minha vida. Tanto interior como exterior, algo que vinha adiando e adiando, esperando a saúde fica melhor, sempre havia uma desculpa para não começar logo e uma preguiça tremenda, acho que era o apego querendo se enraizar de novo na minha vida. Mas estava me sentindo tão sufocada com tanta coisa que não aguentei e explodi e decidi dar um basta em muita coisa. Eu estou voltando a ser a pessoa determinada que era antes do câncer, aquela mulher exagerada, ávida por viver e que não se contenta com as coisas pela metade, aquela que prefere sofrer e romper um laço, mesmo amando o outro, por reconhecer que não está feliz com aquela situação, por enxergar que o que o outro sente e oferece não é aquilo que precisa, enxergar que perdeu a importância pro outro e que não há sentido em permanecer na vida de alguém quando você não tem mais importância para aquela pessoa. Dói reconhecer isso? Dói, mas acho melhor encarar e fechar o capítulo do que ficar teimando em permanecer na vida de alguém que só vai te machucar. Isso vale para todo tipo de relacionamento meu, todo tipo de amor, sim, porque amizade pra mim também é um tipo de amor.

E nessa vibe eu fui com força total e isso transbordou para minha vida exterior, minha casa. Eu sou uma pessoa que na maioria das vezes não sabe lidar muito bem com perdas de pessoas em minha vida, e por não saber lidar com isso eu me isolo e fujo e sumo. Só que as lembranças físicas não desaparecem por encanto, simplesmente as escondo para um dia, quando estiver forte o bastante lidar com elas, ou saio jogando tudo fora mesmo. E nisso outras lembranças acabam ficando esquecidas também, enterradas em gavetas e armários, tesouros preciosos que mesmo anos e anos depois te envolvem numa nuvem de amor e carinho e trazem conforto ao seu coração. E desde a morte do meu pai, eu evitei mexer em qualquer coisa que me lembrasse o passado. E quando eu estava me recuperando e prestes a encarar o passado, veio o diagnóstico de câncer e fui arrastada nessa jornada sem conseguir pensar ou me preocupar com mais nada. E nisso a vida passou, eu sofri, lutei, venci, passei por altos e baixos e enfim depois de 2 anos nessa montanha russa emocional eu estou enfim começando a me preparar pro futuro.

É impressionante como arrumar armários, esvaziar gavetas, encarar o passado, jogar coisas fora, pode ser tão profundo, mexer tanto com você emocionalmente. A sensação que te dá é de estar realmente liberando espaço na vida, coração e alma pra coisas novas, para aquilo que o futuro  trará. E no meio desse turbilhão de emoções eu achei uma cartinha antiga de alguém muito especial. E ao ler essa carta eu pude me ver através dos olhos de outro alguém novamente, pude me admirar e lembrar o quanto eu sou especial e única. Como se um véu tivesse sido retirado e revelado diante de mim um novo espelho, um espelho que me permite ver minha alma, meu coração, minha essência, quem realmente sou quando ninguém está perto. Me dei conta que me tornei cega como a maioria ao meu redor. Cegada pelo sofrimento, pela dor que outros causaram.

Me tornei cega ao essencial, imersa em trevas densas e escuras que não me permitiam ver minhas melhores qualidades, ver o que eu tenho de melhor a oferecer, o quanto eu sou especial e a diferença maravilhosa que posso fazer na vida das pessoas ao meu redor. Com o tempo, de tanto conviver com pessoas que não nos enxergam por inteiro, ficamos também cegos e aos poucos vamos esquecendo nosso valor, o quanto somos preciosas e nos tornamos zumbis mecânicos. Programados para seguir a vida, sem sentir, sem se importar, sem esforço, sem compromisso, sem se importar com mais nada a não ser seus próprios anseios e desejos.


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Beijos Queen Size!

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