sábado, 3 de agosto de 2013

Quando O Melhor Não Acontece



Você continua lutando e esperando até ele acontecer. Mas e quando demora e demora e demora e demora? Você continua esperando e esperando e esperando....seria tão bom se na vida fosse simples assim! Quando a espera é muito longa, o coração se entristece e mesmo uma pessoa super racional como ela, sente o baque.

Ela só queria que tivesse sido tudo diferente, que as coisas para ela dessem certo, ao menos esta vez. mas a vida nunca facilita nada para ela e a cada dia ela se sente mais longe do que no dia anterior, mais distante, entorpecida, esquecida. Olha para o pássaro que voa e quase lhe atinge a cabeça e imagina como seria voar sem destino, sentindo somente o vento sob as asas, e sorri e tenta se lembrar quando sorriu como criança pela última vez, ela não lembra.

Enfim chega ao consultório, ombros pesados, pés arrastados, olheiras profundas e nem a maquiagem disfarça o semblante de dor. Ela carrega os exames como uma bola de ferro presa aos seus pés, suspira e pensa no que faria se tudo fosse diferente, se não precisasse arrastar a dor com ela aonde quer que vá. Sente-se fraca e tonta, consegue sentar, e de novo vem a dor que parece que vai apagar seus sentidos, ela deixa cair uma lágrima, mas enxuga rápido na esperança que ninguém tenha visto.

Ao ouvir seu nome ela treme e pensa, é agora, não tem mais como fugir, seja o que for preciso prosseguir...ela tenta sorrir, o médico a recebe com a mesma cara da 1ª vez em que ouviu a péssima notícia ele pergunta se ela veio sozinha e ela acena que sim e nisso já prevê tudo que ouvirá, o coração diminui o ritmo, as forças esvanecem e ela lembra do pai que partiu e morreu do mesmo mal, como ela sente falta dele! Encarar o câncer de novo em agosto sem o amor dele é insuportável, reviver tudo isso de novo a dilacera como ninguém entende ou poderia imaginar. ela se cansa de ouvir que dará tudo certo, que ela deve permanecer pensando positivo, ela lembra da raiva que sentiu quando ele desistiu e finalmente o entende por ter entregado o jogo, ela pensa em fazer o mesmo, pois agora nada mais importa. E cansada decide parar de adiar o inevitável, quando chegar a hora, que seja o que tiver que ser.

Se ela tinha alguma sombra de  esperança, sai de lá sem ao menos penumbra da mesma. Como alguém pode dizer quanto tempo ela viverá pensa e suspira novamente, nem um chocolate a animaria, nenhum abraço faria isso. Ela se arrasta em direção a rua, segue para a praia e olha para as pessoas e pensa como elas desperdiçam o tempo, ela lembra da chave onde trancou seu baú de tesouros, seu coração, sua boa vontade em acreditar nos outros e se enche de tudo e decide arremessar tudo no mar, se desfaz da chave e grita para si mesma que ninguém nunca mais destrancará seu coração, que o amor morra e observa as ondas do esquecimento levarem embora aquilo que um dia foi seu tesouro mais precioso. Ela se sente leve e senta na areia enquanto espera tudo enfim afundar.

Todos os dias ela estava ali diante daquele espetáculo, mas não se permitia desfrutar de uma das coisas que mais ama, o mar, como ela adora o som das ondas, a sensação da areia entre os dedos e lembra que quer ser cremada e precisa ir ao cartório, mas não esta semana. Lembra com rubor das vezes em que foi tola e conclui que nunca deixará de ser, assim como fofa e de coração aberto, embora isso sempre a machuque, mas, agora nada disso faz diferença mais. Ela lembra do filme que assistiu  e pensa em como preparar todos, e hesita, acho que não vou preparar ninguém, ela decide que não vai contar para ninguém o que ouviu do médico e pensa se ele honrará a promessa que fez a ela...está tão frio, mas ela permanece brincando com a areia e olhando pro mar e pensa em como seria bom se do outro lado houvesse mar e areia, se pergunta se há algum anjo ao seu lado observando o pôr do sol junto com ela.

É tarde, há muito o sol se pôs, enxuga as lágrimas, retoca a make, se levanta e segue sem olhar para trás. Por sorte ela mora longe dali, até chegar em casa, o inchaço terá sumido. Muda a playlist e caminha rumo ao seu infinito.






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